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Rodrigo  Hirose
Rodrigo Hirose

Jornalista com especialização em Comunicação e Multimídia / rodrigohirose@gmail.com

Rodrigo Hirose

A nova revolta da vacina

| 05.07.18 - 12:08
Goiânia - A semana dos dias 10 a 16 de novembro de 1904 foi tumultuada no Rio de Janeiro. Prédios foram depredados, trilhos foram retirados e bondes do transporte público, revirados. As pessoas se recusavam a receber agentes públicos. Era a revolta da vacina: parte da população se rebelou contra a vacinação para prevenção da varíola, na campanha realizada pelo sanitarista Oswaldo Cruz.  

A descoberta de que o próprio agente patológico poderia ser utilizado para proteger pacientes saudáveis era relativamente nova. A primeira vacina de que se tem registro prevenia exatamente a varíola e fora desenvolvida pelo britânico Edward Jenner. No final do século 18, ele notou que a inoculação de secreções de doentes em pessoas saudáveis causava uma forma branda da doença e elas ficavam imunizadas.  

No Rio de Janeiro do início do século 20, a maioria da população vivia em cortiços e tinha baixíssimo nível de educação. Havia um medo generalizado de que a vacina seria, na verdade, uma forma de o governo eliminar aquelas pessoas. Daí a revolta.  

Mais de 100 anos depois, uma revolta da vacina silenciosa volta a ocorrer. Segundo o Ministério da Saúde, a cobertura vacinal atingiu o pior índice dos últimos 16 anos no País. No caso dos adultos, por exemplo, algumas vacinas não atingiram nem 4,7% da população de 20 a 59 anos. Um em cada quatro municípios também não alcançou as metas de imunização em nenhuma das 10 vacinas disponíveis para crianças e adolescentes.  

Os resultados são imediatos. Doenças antes controladas, como sarampo e catapora registram aumento de notificações. Pelo menos 312 municípios brasileiros convivem com o risco real de retorno da poliomielite, a paralisia infantil. Tudo isso em uma cenário recente de corrida por vacinas provocada por surtos de gripe H1N1, que também não atingiu as metas na população mais vulnerável, e febre amarela.  

Mas, ao contrário do que ocorrera em 1904, dessa vez o que não falta é informação. Talvez ocorra exatamente o inverso: excesso dela. Enquanto a população mais jovem não conviveu com o medo dessas doenças, por outro lado cresce um movimento antivacinação carente de comprovação científica. Os pesquisadores acreditam que o pontapé para o fenômeno foi a publicação, no final dos anos 1990, de um artigo que vinculava o autismo à vacina contra o sarampo. Porém, todos os estudos posteriores refutaram essa conclusão.

Também surgem a todo instante relatos de gente que adoeceu após receber a vacina contra gripe e até de cães que morreram após a antirrábica – uma combinação perfeita para teorias da conspiração. Grupos se disseminam nas redes sociais e pregam um estilo de vida, baseado em crenças religiosas, filosóficas e ideológicas, que apontam as vacinas como fonte de controle social e exploração comercial. O resultado tem sido o ressurgimento de doenças erradicadas ou controladas, algumas vezes em versões resistentes ao arsenal terapêutico atualmente disponível.  

A revolta da vacina moderna é um fenômeno global que pode fazer a humanidade retroceder um século na prevenção de patologias que já fizeram tanto mal.

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