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Rodrigo  Hirose
Rodrigo Hirose

Jornalista com especialização em Comunicação e Multimídia / rodrigohirose@gmail.com

Conectado

Conectados, mas solitários

| 09.08.18 - 07:36
Goiânia - Pode ser paradoxal, mas arrisco a afirmar que nunca estivemos tão sós, mesmo rodeados de tantas conexões. Em um mundo tão ruidoso, em que temos milhares de “amigos” literalmente na palma das mãos, cada vez mais pessoas estão em suas ilhas desertas. A frase “sozinho na multidão” faz cada vez mais sentido.
 
No Japão, o fenômeno é observado desde os anos 1980 e ganhou até nome: Kodokushi, a morte solitária. No país asiático, todos os anos, milhares de idosos são encontrados mortos em seus apartamentos, onde viviam longe de familiares e sem contato com amigos. Apesar de ser mais comum entre pessoas com mais de 65 anos de idade, gente jovem, na faixa dos 30 a 40 anos, também tem sido vítima do Kodokushi e da sua versão contemporânea, o Karoshi – a morte solitária por excesso de trabalho.
 
O isolamento, contudo, atinge pessoas ainda mais jovens. Nos Estados Unidos, o índice de solidão, criado por uma empresa de saúde com base em questionário elaborado pela Universidade da Califórnia (UCLA), alcança o pico mais alto na chamada Geração Z – pessoas com idade entre 18 e 22 anos – exatamente a mais conectada e que costuma ter mais amigos nas redes sociais. O índice cai à medida que o público analisado é mais velho.
 
Tanto nos Estados Unidos quanto no Japão, para ficar apenas nesses dois países, esse isolamento se transformou em nicho de mercado. No país asiático, bichos de estimação eletrônicos, bonecos-robôs e aplicativos com inteligência artificial têm servido de companhia para muita gente. Entre os americanos, há até a profissão de “acompanhante virtual” – e não estou, aqui, falando de sexo virtual, mas de gente que recebe uns trocados para conversar via aplicativos ou jogar on-line com o cliente.
 
Especula-se que a digitalização da vida tem contribuído para que a solidão se torne mais comum. Segundo essa linha de pensamento, as pessoas estariam trocando as relações reais pelas virtuais. Em texto publicado na versão on-line do jornal El País, os professores John T. Cacloppo e Stephanie Cacloppo, ambos da Universidade de Chicago, afirmam que as redes sociais podem aproximar pessoas, quando usadas para enriquecer as interação entre elas, mas também podem afastá-las, se substituírem as relações humanas.
 
Essa tendência à demonização da tecnologia como causadora do isolamento não é novidade. Em Robbie, conto de 1939 depois compilado na coletânea I, Robot, o escritor russo Isaac Asimov já abordava o assunto. No texto, Grace está à volta com o drama de ver a filha preferir a companhia de um robô-babá à amizade com meninos e meninas de sua idade.
 
Outros pesquisadores apontam o aumento do isolamento e da solidão como consequência do próprio capitalismo. Há quem o relacione ao narcisismo. Melhor concluir, portanto, que o desejo de ficar sozinho ou o medo de estar junto tem causa em questões de saúde física, mental e psíquica e de fatores sociais e econômicos.
 
A arte também nos ajuda a encontrar algumas respostas sobre essa epidemia. Exemplo é o ensaio Quiet Tokyo, do fotógrafo Hiroharu Matsumoto. Realizado em uma das maiores megalópoles do mundo, onde as pessoas esbarram umas nas outras o tempo todo, Matsumoto captura tocantes imagens em preto e branco da mais profunda solidão. Pelo olhar do artista, enxergamos suas luzes e sombras.
 

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