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Leonardo Rizzo

A nova agenda prioritária - Mitigação climática para Goiânia e Goiás

| 12.04.24 - 17:49

O mundo passa atualmente por enormes mudanças no clima que podem afetar a forma como vivemos e mesmo nossa própria sobrevivência como espécie! E a Colômbia já tem muitos exemplos para nos dar em meio à crise climática que atravessamos! Meu saudoso amigo Washington Novaes costumava dizer que Hollywood existe para nos acostumar com a tragédia! E infelizmente esse tempo de mudanças tão abruptas parece ter chegado! A seca sem precedentes na Região Norte, os frequentes Tornados que agora inundam o Sul do Brasil, os incêndios devastadores no Havaí e no Chile, entre tantos outros que temos visto, não me deixam mentir! Precisamos mais do que urgentemente rever nossos padrões civilizatórios e construir sociedades mais resilientes a essas mudanças, cidades adaptadas a um novo regime hídrico e mais conectadas com as soluções baseadas na natureza. O alerta dos cientistas de que a Amazônia está muito próxima de um ponto de não retorno é assustador! Nossa janela de tempo para ação é cada vez mais curta, mas ainda podemos reverter essa situação!

Bogotá recebeu recentemente um importante prêmio ambiental, o One City Planet, concedido pelo WWF Global. O reconhecimento se deveu a seu arrojado Plano de Ação Climática, que coloca a capital colombiana, com mais de 8 milhões de habitantes, na vanguarda latino-americana do enfrentamento da crise climática! Com 30 grandes metas de mitigação e adaptação, o plano pretende reduzir em 15% as emissões de carbono até o final de 2024, em 50% até 2030 e tornar a capital carbono neutra até 2050!

Com foco em aumentar áreas verdes, implementar soluções baseadas na natureza, promover a produção e o consumo responsáveis, mobilidade urbana sustentável e mudança de hábitos, o ousado plano de Bogotá bem que poderia servir de exemplo para Goiânia, nossa abandonada capital! Neste último mês de janeiro vimos chover de um dia para outro mais de 100 mm , volume que antes chovia ao longo de um mês inteiro! É o fenômeno que os cientistas climáticos chamam de “Rain bombs”, bombas de chuva, provocadas pelas mudanças climáticas e a intensificação das áreas de calor nas metrópoles. E o prefeito que havia prometido tornar Goiânia na capital da drenagem viu suas ruas inundadas e seu discurso vazio levado pelas águas que tomaram toda a cidade!

Mas voltando ao exemplo de Bogotá, uma das apostas do plano é extirpar a principal fonte de gases causadores do efeito estufa na cidade: o transporte público, responsável por 48% das suas emissões (de um total de 11 milhões de toneladas de CO2), com a troca de toda a frota de ônibus (1,5 mil) por elétricos! Neste sentido, é louvável a atitude do governo estadual que já deu um primeiro passo por aqui e pretende trocar mais de mil ônibus da região metropolitana de Goiânia também por elétricos até 2026! Um deles inclusive já circula experimentalmente pelas ruas de nossa capital!

Outro ponto focal de Bogotá é a construção de uma usina de termovalorização de resíduos, que vai produzir energia a partir de resíduos inorgânicos. Enquanto isso, em Goiânia vemos a Comurg envolvida em um escândalo após o outro, com aumento desmesurado de número de funcionários comissionados, falta de caminhões para coleta de lixo e resíduos se acumulando pela cidade! E agora tornou-se caso de polícia com sua área de transbordo irregular há muitos anos!

O plano para mitigação climática de Bogotá também prevê metas para as emissões ligadas à energia, com substituição na iluminação pública de lâmpadas comuns por LED que consomem menos, além da redução no uso de gás nas residências e estímulo econômico à energia solar. Nesta seara Goiânia também ficou só no planejamento por enquanto: pretende investir 196 milhões de reais para trocar todos os 180 mil pontos de iluminação pública por LEDs, mas os recursos para isso ainda são incertos e viriam do empréstimo que a Prefeitura negocia junto ao Banco do Brasil, mas que dependia do aval da Câmara Municipal. Agora não sabemos se haverá tempo para que este empréstimo de fato se efetive! Mas é um fato que a transição energética é fator crucial para a mitigação das mudanças climáticas não só em nossa capital, mas no mundo! E a energia solar tem tudo para ser a mola propulsora desta transição. O Brasil atingiu recentemente a marca de 16.5% ( equivalente a 39 GW) de sua matriz energética sendo abastecida por energia fotovoltaica, sobretudo Geração Distribuída ( 27 GW) , mas também de Geracão Centralizada ( 12 GW)! Mas estudos mostram que o Brasil tem potencial para expandir em mais de 400 vezes seu parque de usinas solares!

Outro ponto importante do plano de Bogotá é a implantação dos chamados corredores verdes por toda a cidade, que ligam suas diferentes unidades de conservação. Mirando-se no exemplo de Medellín, que já os implantou e conseguiu reduzir a temperatura média da cidade em até 2 graus celsius, Bogotá quer recuperar áreas urbanas degradadas com a criação de novas unidades de conservação e manejo sustentáveis. Mas para tudo isso, primeiramente mediu sua “pegada de carbono” e somente depois traçou este ousado plano que agora põe em prática! Com este estudo de riscos climáticos feito por zona da cidade, já sabe onde poderão acontecer inundações, incêndios florestais abruptos e zonas de calor mais intensas e frequentes em diferentes pontos da cidade até 2040.

E nós, sabemos qual é a pegada de carbono de nossa capital atualmente? Os últimos estudos de maior alcance neste sentido são de 2016, feitos pelo então Programa de Gestão de Emissões de Goiânia, que estimava em 2,25 toneladas de carbono equivalente por habitante, valor 28% acima da média nacional, que é de 1,75 tonelada por habitante! Esses dados precisam ser atualizados, pois qual será nosso plano para mitigar este novo “normal” das mudanças climáticas? O fato é que temos muito a aprender com os exemplos colombianos! Há poucos dias o presidente da FAEG, José Mário Schreiner alertou que Goiás pode perder 4 milhões de toneladas de grãos por condições climáticas desfavoráveis, o que poderá resultar em uma enorme queda no PIB de nosso Estado! Para evitar essas perdas agrícolas, ações de mitigação climática e transição energética precisam urgentemente ser tomadas. E nada melhor do que começarmos esta dura, mas primordial tarefa, por nossa capital!

* Leonardo Rizzo é empresário presidente do Instituto Rizzo .

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