Fachada do Jardim Potrich (foto: Felipe Domingues)
Passado exatamente um mês do Natal, é tanta bizarrice acontecendo na política e reverberando nos holofotes das mídias histéricas, que me bateu uma vontade de resgatar um pouco daquela magia do nascimento de Cristo, o cristal precioso anunciado pelo céu e pela estrela de Belém. Bateu vontade de jogar luz sobre a metáfora do papai Noel, ou São Nicolau, que representa o espírito natalino.
Assisti o estadunidense (água com açúcar) “Operação Natal” (2024). A história futurista, que transita entre universos paralelos, sobre o rapto de papai Noel, traz o personagem outsider dos contos nórdicos, o nefasto Krampus.
Do alto alemão antigo, krampes, que significa garras (no sentido ambíguo: vontade; coragem, ou presas; armas) é uma criatura obscura, que acompanha São Nicolau na época do Natal e sua função é punir as crianças mal criadas. Assim como Krampus está para Noel, Exu está Oxalá, Hades está para Zeus e o Diabo está para Deus, o nefasto ser cumpre uma função essencial, ele equilibra o sistema, acolhendo em seu 'reduto', uma corja que não se adapta às condutas éticas da sociedade.
É o que chamam na matemática como medida inversamente proporcional; o plano cartesiano: o positivo e negativo, ou em estudos mais místicos; opostos complementares: dia e noite, fogo e água, Sol e Lua, macho e fêmea.
Independentemente da ordem dos fatores, cada um tem sua importância, nem mais, nem menos.
O resto é ego.
Um oposto que equilibra o outro: Yin e Yang. Observar desta forma a metafora da fisica-quântica nos permite entender com clareza as causas e consequências da vida. 'Punir', ou educar com rigor, uma criança ainda em terna infância, determinaria a ela uma nova oportunidade de escolha e, assim, para evitar ser castigada novamente, ela assimilaria mais os efeitos de suas escolhas e tomaria decisões mais conscientes.
No filme, o cara que representa a criança mal criada tem que usar suas habilidades para reverter uma escolha errada que fez. Alguns sinais nos advertem para revertermos escolhas e atitudes mal feitas, o primeiro deles começa na saúde mental e a organização de nosso entorno. Se algo vai mal, é porque viemos tomando más decisões: causa e efeito.
Resgatar na infância os momentos que fomos crianças 'punidas' pode ser um tanto desconfortável, mas ainda sim, necessário para nosso amadurecimento, redenção e amor-próprio. Assumir o erro, se perdoar e seguir em frente com outras escolhas mais saudáveis é ir ao encontro da luz.
A busca de ferramentas para o autoconhecimento através dos opostos complementares pode ser uma escolha. A vida é um constante jogo, ou 'brincadeira' de luz e sombra, bom e mau, verdade e mentira que devemos saber participar harmonicamente.
Deixar que nossa criança interior saia para brincar, deixá-la rir e chorar de suas próprias palhaçadas pode ser libertador para nos reencontrarmos novamente com nosso propósito. Escolhas sensatas e coerentes, punições pertinentes, crianças bem criadas, bem educadas e, por fim, menos histeria coletiva seria, com certeza, uma trajetória mais iluminada para a humanidade.
(foto: reprodução)