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Ralph Rangel

eXtreme Go Horse: A Arte da Gambiarra Digital

| 21.05.25 - 17:42

Quem nunca se viu diante de uma encruzilhada codificada, com o prazo apertando e a solução elegante parecendo tão distante quanto um unicórnio de óculos? Que atire o primeiro pendrive quem nunca recorreu a um jeitinho — uma solução criativa que, sejamos honestos, beirava o ridículo.
 
Pois bem, caros leitores, saibam que existe um nome quase filosófico para essa prática comum no submundo do desenvolvimento de software. Trata-se do eXtreme Go Horse, ou simplesmente XGH.
 
Nascido das profundezas da programação orientada a gambiarras, a famosa POG, o XGH não é exatamente uma metodologia formal. É um conjunto de mandamentos que ecoam nas salas de TI, nos commits desesperados da madrugada e nas preces silenciosas de quem vive sob prazos insanos. Longe de ser um manual de boas práticas, o XGH é uma filosofia de sobrevivência em um mundo onde o "pra ontem" reina absoluto.
 
Com uma boa dose de ironia e um espelho cruel da realidade, o XGH apresenta 22 mandamentos que, mesmo não seguidos à risca, certamente já passaram perto de muitos teclados por aí. Quem nunca se viu no dilema do Mandamento 2: “Existem 3 formas de se resolver um problema: a correta, a errada e a XGH — que é igual à errada, só que mais rápida”? Ou na cautela desesperada do Mandamento 6: “Commit sempre antes de update”?
 
Por trás do humor ácido, há uma crítica velada — ou talvez nem tão velada assim — às pressões do mercado, aos prazos irreais e à cultura do “entrega logo, arruma depois”. Em um mundo ideal, teríamos tempo para arquitetar soluções robustas e realizar testes exaustivos. Mas no campo de batalha da programação diária, muitas vezes nos resta improvisar, construindo pontes com linhas de código frágeis e torcendo para que ninguém repare.
 
Ainda assim, é preciso cuidado. Há uma linha tênue entre recorrer à gambiarra ocasional por necessidade e adotar o XGH como prática padrão. Como alerta o Mandamento 3: “Quanto mais XGH você faz, mais precisará fazer.” A gambiarra de hoje se transforma no débito técnico de amanhã, uma dívida silenciosa que cresce com o tempo e pode comprometer projetos inteiros.
 
O XGH também nos lembra, com seu deboche característico, que às vezes o melhor a fazer é sair fora quando o barco começa a afundar, como sugere o Mandamento 8. Ou, no mínimo, reconhecer os sinais de que o projeto está indo pelo ralo. Ele valoriza a autenticidade, conforme afirma o Mandamento 9, mesmo quando isso significa romper com os padrões estabelecidos — desde que se tenha plena consciência das consequências.
 
Mas nem tudo gira em torno do caos. No universo XGH, há também um senso de camaradagem entre os que enfrentam juntos os bugs impossíveis, os deploys tensos e os códigos comentados com “não mexer!”. O Mandamento 18 diz que “O XGH é seu brother, mas é vingativo” — e todos que já sofreram com um if mal interpretado sabem o quanto isso pode ser verdade.
 
No final das contas, o eXtreme Go Horse é mais do que uma piada interna entre programadores. É um espelho, embora distorcido, das dores, improvisos e dilemas enfrentados no mundo real do desenvolvimento. Serve como lembrete de que o caminho mais rápido nem sempre é o mais seguro e de que a solução improvisada de hoje pode se tornar a dor de cabeça coletiva de amanhã.
 
Então, da próxima vez que você criar um método com nome suspeito ou deixar um comentário críptico no código, respire fundo e pense bem. Isso pode acabar virando lenda dentro da sua equipe. E como bem diz o Mandamento 19: “Se estiver funcionando, não põe a mão.” Que assim seja.
 
Os 22 mandamentos:
1. Pensou, não é XGH;
2. Existem 3 formas de se resolver um problema, a correta, a errada e a XGH, que é igual à errada, só que mais rápida;
3. Quanto mais XGH você faz, mais precisará fazer;
4. XGH é totalmente reativo;
5. XGH vale tudo, só não vale dar aquilo;
6. Commit sempre antes de update;
7. XGH não tem prazo;
8. Esteja preparado para pular fora quando o barco começar a afundar… ou coloque a culpa em alguém ou algo;
9. Seja autêntico, XGH não respeita padrões;
10. Não existe refactoring, apenas rework;
11. XGH é totalmente anárquico;
12. Se iluda sempre com promessas de melhorias;
13. XGH é absoluto, não se prende às coisas relativas;
14. XGH é atemporal;
15. XGH nem sempre é POG;
16. Não tente remar contra a maré.
17. O XGH não é perigoso até surgir um pouco de ordem;
18. O XGH é seu brother, mas é vingativo;
19. Se estiver funcionando, não põe a mão;
20. Teste é para os fracos;
21. Acostume-se ao sentimento de fracasso iminente;
22. O problema só é seu quando seu nome está no Doc da classe.
 
*Ralph Rangel, é desenvolvedor de software, professor em cursos de MBA. Foi Superintendente na Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Goiás. Foi Secretário Executivo na Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Município de Goiânia.

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