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José Osório Naves

Turismo aventura, não turismo responsável

| 01.07.25 - 17:58
Nada mais saudável que o contato com a natureza, apreciando seus encantos, os pássaros sobrevoando o horizonte, rios, cachoeiras e montanhas. Há os esportes de montanhistas; alpinismo; o rafting da canoagem em correntezas; pescaria em lagos profundos; ski nas neves, tidos como radicais, mas com toda segurança aos seus praticantes. 
 
A natureza é traiçoeira e quem se aventura a desbravá-la tem que o fazer de forma segura, com muita responsabilidade, sem maiores riscos pessoais de quem se dispõe a esse desbravamento.
 
No recente e lamentável caso da brasileira Juliana Marins que se escorregou do topo do vulcão Rinjani, na Indonésia, caindo num precipício de mais de 3 mil e 500 metros de profundidade, sem usar qualquer equipamento de segurança e sem a menor assistência dos responsáveis por uma trilha de 1 metro de largura como se fosse uma lâmina entre dois abismos laterais, sem qualquer corda ou aparador de proteção lateral.  É um tipo de turismo suicida. Só este ano lá já se registraram 31 acidentes com 11 mortes.    
 
* É o que se pode chamar de turismo irresponsável. A pessoa vai sabendo dos riscos e os responsáveis nem estão aí, acatando o direito de ir e vir.                               
* Responsabilidade nenhuma, a prática se sucede e as mortes também.
* Esse desafio é para provar o que e para quem? Se for a si próprio, tudo bem, mas fazer bonito a outras pessoas, pode ser a morte, como o ocorrido.
* Empresas se enriquecem com a loucura dos outros. Essa aventura custa mil dólares, sem guias especializados para informações e cuidados, muito menos socorristas em caso de acidentes.
* Quem resgatou o corpo sem vida de Juliana foi um alpinista voluntário.
 
Já aconteceu comigo!
 
Não por irresponsabilidade, mas por desinformação e ignorância, vi a morte de perto. 
 
O fato ocorreu em 1989. Estava em Paris com minha mulher Clas e as filhas Luciana e Paula.                 
 
Como editor de turismo lá estava convidado pela Maison de France, que me disponibilizou um carro Citroen para percorrer com liberdade o país e arredores, conhecendo de perto as belezas europeias.
 
Resolvemos dar uma ida à Suíça, conhecer suas bucólicas pequenas cidades e a beleza dos Alpes. De Paris a Berna são 458km e 6 horas de duração por tortuosas e belas estradas.
 
Na ida tudo bem, aquelas belas montanhas brancas de neve refletindo o sol matinal. Não existe coisa mais linda de se ver. Trânsito quase deserto, com raros veículos.
 
Passamos por várias e belas pequenas cidades até Berna, onde passamos mais tempo conhecendo a capital e tomando um bom chocolate quente para esquentar o corpo e os ânimos.
 
O retorno já não foi nada seguro. Caiu uma nevasca e as calmas estradas se cobriram de gelo.         
 
O carro Citroen que eu guiava dispunha de uma pequena alavanca interna que é só puxá-la e a carroceria do carro tornava-se mais alta, facilitando o trânsito sobre a neve.                   
 
Só que não eram simples neves, mas uma cobertura de gelo escorregadio que tomou o leito da estreita estrada, ladeada de um lado por grandes montanhas, do outro um abismo branco aterrorizante.      
 
Embora devagar e com toda a cautela o carro deslizava sobre o gelo escorregadio e as margens do precipício não tinham nenhuma proteção. Caindo ali ninguém iria achar, pois o gelo cobriria rápido o carro que lá caísse. E nós não tínhamos a menor referência de quem éramos e o que lá fazíamos. Ninguém sentiria a menor falta.
 
Confesso que nunca tive tanto medo na vida, mesmo mantendo a calma para não apavorar minha família presente na aventura.     
 
Foi mais de uma hora trafegando aterrorizado, quando, felizmente, vimos os grandes tratores destruindo os gelos e abrindo lamacentas passagens a quem por ali trafegava. Só aí senti alívio.
 
Parei por meia hora, para parar de tremer do medo passado e prosseguir uma boa viagem de volta a Paris.
 
*José Osório Naves, goiano, é jornalista, mora em Brasília e já editou guias turísticos em Brasília, Goiás e Mato Grosso.

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