Há mais de 20 anos Leonardo Rizzo me colocou em contato com a meca do futebol society, das “peladas” de Goiânia, que então ainda aconteciam no campo de altíssimo nível do Malcom Merzian, numa travessa da Avenida T-9! Ali tive a oportunidade de bater bola com ex-jogadores do nível do Macalé, Alex Dias, Wallace, Agnaldo e tantos outros! O Malcom vendeu seu terreno para uma escola e a pelada acabou migrando para o campo que o Jorcelino Braga e o Léo construíram, na saída para Nerópolis! Hoje perdemos o Léo, Antônio Leonardo Monteiro, o eterno capitão e dono da prancheta de nossa pelada! Que pra pelada (quem conhece sabe que não estou mentindo!) é mais organizada que muitos campeonatos estruturados: tem juiz contratado, goleiros fixos, iluminação perfeita e acima de tudo , um gramado impecável, um “tapete” com drenagem melhor que do Serra Dourada, que era o xodó do Léo!
Por isso, hoje minha bola está assim, murcha, rasgada e dilacerada em uma esquina qualquer! Hoje partiu nosso homem-resenha, nosso Nilton Santos da Campininha! Hoje partiu o cara que ao longo de mais de 20 anos se tornou um mentor, quase um pai para mim! O atleticano raiz, de corpo e alma, rubro-negro único e ao mesmo tempo botafoguense! Um sujeito simples, de hábitos simples, franciscanos, mas com um coração gigantesco, que acolhia a todos! Um inconformado com as injustiças sociais do mundo! Um cara erudito, humanista e carinhoso como poucos, que além de uma Bíblia do futebol também conhecia como ninguém o melhor do cinema, da nouvelle vague francesa ao cinema independente sul-coreano atual! Cinéfilo por natureza, um apaixonado pela magia que só a sala escura dos cinemas é capaz de causar em nossos corações e mexer com o inconsciente coletivo que nos permeia! O Léo era um apaixonado e loquaz amante de todas as artes, da cultura! Amava o melhor do jazz, da MPB, da música clássica e do rock!
(Foto: acervo pessoal)
O Léo recebeu a convocação máxima, do Céu, para uma uma seleção brasileira de craques compostas só por botafoguenses e atleticanos de todos os tempos, geniais como ele em campo! Porque se tem alguém que primava pela elegância, a finesse, a não violência em campo, esse alguém era o Léo! Não me lembro de vê-lo dar pancada em ninguém ao longo desses mais de 20 anos! Só lembro do cara que sempre achou mais graça no drible que no gol! O rei da caneta curta, tipo rolinho, pra humilhar mais!
O Léo vai fazer muita falta! Fica um buraco gigante, como o da bola! Mas ficam também as cores e tons que ele deixou em nossas vidas, a força dessa família do futebol que ele mais do que ninguém ajudou a juntar, um grupo diverso e rico de gente, como foi a vida dele, que ainda joga a pelada do Braga e do Léo! Obrigado Léo por tudo, por ter me acolhido e me dado tantos conselhos bons ao longo de todos esses anos! Pelas resenhas de jogos e filmes, mas principalmente por ter me feito uma pessoa melhor, menos cabeça quente, mais leve, como você em campo e na vida, dando show, flanando altivo e fazendo gols sem fim, como bem entendia!
Fica a lembrança de nosso ultimo encontro, vendo você fazer treino funcional com o Wanderson e chutando com a precisão de sempre! Ansioso como todos nós, seus amigos de pelada, pela volta da nossa paixão, a pelada, que ainda continua interrompida pela pandemia! Fica a memória de você, Léo, cauteloso e sábio como sempre, protetor dos seus nesse momento tão difícil em que temos que nos privar de nossas maiores paixões pelo bem coletivo! Fica a lembrança de você pegando na mão da minha filha pequena com um carinho inenarrável e a levando pra apagar os refletores do campo! Hoje estamos assim por sua falta, com os refletores apagados!
Mas tenho certeza quevocê está sendo recebido com toda a pompa e a glória em campos ainda mais iluminados meu amigo, como um cara íntegro, honesto, humilde e de enorme coração como você merece! O Léo tinha esse dom, que era maior até do que suas habilidades únicas como jogador, de fazer todos se sentirem quase que parte de sua família! E nossa pelada não será mais a mesma, sem você comandando a prancheta e gritando “Time 1...” e botando ordem no terreiro quando as coisas esquentavam demais! Vá com Deus Léo, até breve e obrigado por tudo!