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ECONOMIA

Indústria da moda goiana busca se fortalecer no mercado nacional

Setor emprega mais de 200 mil pessoas em Goiás | 22.10.19 - 11:10 Indústria da moda goiana busca se fortalecer no mercado nacional (Foto: ISTOCK)
 
Fernando Dantas
Especial para o jornal A Redação
 
Goiânia - Costureira, modelista e bordadeira. É assim que Adrielle Gomes Lima, 27 anos, se define como profissional. “Sempre gostei de moda. Minha mãe era costureira e, quando ela faleceu, deixou as máquinas para mim. Um dia passei a fazer roupas vendo vídeos no YouTube, algumas pessoas começaram a pedir e foi, então, que decidi me profissionalizar”, relembra. Ela fez cursos de Modelagem Corte e Costura e de Interpretação de Modelos no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Goiás). Por causa da qualificação, conseguiu uma colocação no mercado de trabalho, passando a atuar em casa, como autônoma, e atender em um ateliê de noivas, no setor Campinas, em Goiânia.
 
Adrielle Gomes investiu em qualificação para atuar no mercado da moda (Foto: divulgação)
 
Adrielle Gomes faz parte de estatísticas positivas da indústria da moda goiana, responsável pela criação de 200 mil empregos diretos em várias áreas profissionais ligadas, principalmente, aos setores comerciais e industriais. São oito mil confecções no Estado que produzem, aproximadamente, 60 milhões de peças por mês, comercializadas no atacado e no varejo, segundo informações da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg). Goiás é o segundo Estado com maior movimentação econômica de indústrias e confecções de vestuário e tem adotado estratégias para crescer ainda mais no mercado nacional. O destaque local está na Região da 44, maior polo de moda do Centro-Oeste. 
 
Segundo o presidente da Fieg, Sandro Mabel, a indústria da moda é importante para o Estado, e para a capital goiana, porque trabalha com um tipo de produto chamado ‘híbrido’, ou seja, faz parte da indústria de transformação e da indústria cultural. “A moda está entre os segmentos da chamada ‘Economia Criativa’, que é hoje a que mais gera renda e PIB no mundo”. Está, ainda, diretamente envolvida com setores como cultura - arte, música, teatro, artesanato -, turismo e tecnologia. “Temos um grande avanço da moda na área do e-commerce, por meio de mídias sociais e até mesmo marketplace. A tecnologia está associando a produção de conteúdo, como tendências de moda e comportamento de consumo, com produção, venda, consumo, logística de informação e até mesmo de transporte”, acrescenta Sandro Mabel.

Já indiretamente, o presidente da Fieg enfatiza que a indústria da moda impacta diferentes áreas da economia, como é o caso do agronegócio. “O quesito têxtil e confecção, por exemplo, se aproveita do plantio de algodão, processo de fiação, tecelagem e assim por diante, até se tornar produto final, quer seja em vestuário ou outros artigos”.
 
 
Fora do Estado, Goiás é tido como referência em preço e logística, em grande parte, devido ao posicionamento geográfico. Também é destaque como polo produtor e como atacadista de roupa popular. “Somos referência em jeans, tendo o melhor do Brasil. Mas ainda estamos focados em produzir produtos de baixo valor agregado”, revela. Para Sandro Mabel, o maior desafio da indústria da moda é produzir itens de maior valor agregado, fortalecendo a cadeia. “É preciso capacitar as micro e pequenas empresas para gerir os seus negócios de forma mais sustentável e alinhada com as novas demandas de consumo, ou seja, investir mais em design e em gestão estratégica. Também precisamos absorver novas tecnologias, atrair mais e melhores fornecedores e melhorar políticas públicas de incentivo para atrair indústrias mais fortes que possam alavancar o crescimento do setor”, enfatiza. 
 
Ele explica que países mais industrializados, como China, já conseguiram associar a automação e a logística de informação em vários processos de fabricação e agora estão avançando na confecção 4.0. “O parque industrial brasileiro e goiano de confecções ainda é formado 85% de micro e pequenas empresas. São aquelas que ainda não alcançaram um nível de maturidade para absorver estas novas tecnologias. A nossa manufatura ainda é predominantemente artesanal ou mecânica”, acrescenta.
 
Presidente da Fieg, Sandro Mabel afirma que é preciso fortalecer a indústria da moda em Goiás (Foto: Alex Malheiros)
 
Para fortalecer essa indústria, a Fieg tem trabalhado em programas como Brasil Mais Produtivo e Encadeamento Produtivo, com a prestação de serviços de consultoria para aprimorar os processos e o desenvolvimento de novos produtos. “Buscamos parcerias com todas as prefeituras do Estado que possuem Arranjos Produtivos Locais (APLs) de confecção para formação de mão de obra”, acrescenta Sandro Mabel. Além disso, a Fieg criou a Câmara da Moda, juntamente com o setor produtivo, com o intuito de alinhar e promover diretrizes que possam expandir e transformar a Região da 44, no setor Norte Ferroviário, e fazer com que Goiás seja o principal polo da moda no Brasil. 

Goiânia recebe, diariamente, mais de 250 mil pessoas para realizar negócios relacionados à moda, sendo que a maioria passa pela Região da 44, estima a Fieg. O crescimento dessa área como polo chamou a atenção de empresários que investiram na região e têm contribuído para estimular esse tipo de indústria na capital goiana. Um exemplo é o Mega Moda, formado por seis empreendimentos, inclusive um hotel. Somente Mega Moda Shopping e Mega Moda Park, por exemplo, somam mais de 1.800 lojas. 
 
 
O presidente do empreendimento, Carlos Luciano Martins Ribeiro, aposta no potencial da Região da 44 e do setor de moda, na capital goiana, mas afirma que para fortalecer essa indústria é preciso haver uma ação integrada, em várias frentes, desde a capacitação de mão de obra para produção até distribuição. Ele cita o caso do Projeto Goiás na Moda, que tem o apoio do Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Goiânia e Região Metropolitana (Codese), Mega Moda, Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Goiás), Senai, Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e, principalmente, do Governo de Goiás. 
 
O programa busca o desenvolvimento sustentável com ações que envolvam erradicação da pobreza, trabalho digno e crescimento econômico, indústria, inovação e infraestrutura, redução das desigualdades, cidades e comunidades sustentáveis. O ponto de partida é a expansão da Região da 44. “Mas o Goiás na Moda ganhará força se conseguirmos espalhar as confecções pelo interior, fornecendo subsídios que as ajudem a produzir com qualidade e competitividade. Para isso, é fundamental levar qualificação e incentivo governamental. Atualmente, algumas cidades já são referência em produção, como jeans em Jaraguá e Itumbiara; Pontalina com moda íntima; Trindade com Modinha, entre outras”, enfatiza. 
 
As parcerias também têm sido fundamentais para estimular o mercado. Carlos Luciano destaca que o Mega Moda, por exemplo, assinou um termo de cooperação técnica, com o Ministério Público do Trabalho em Goiás (MPT-GO), para viabilizar a contratação de alunos de projetos de empregabilidade do órgão. “A parceria tem como objetivo propiciar a inclusão no mercado formal de trabalho da turma de egressos do ‘Costurando Poemas’, que ofereceu um curso de costura industrial para pessoas trans no início deste ano. Dos formandos, o Mega Moda já contratou uma aluna trans para o Clube de Costura”, cita. Já com a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), o Mega Moda assinou um Termo de Cooperação com o Clube de Costura para formar adolescentes e jovens gestantes, atendidas pelo Programa Meninas de Luz, no Curso Rápido de Modelagem, Corte e Costura. 
 
Outro empreendimento que deverá ajudar a estimular a produção nas confecções, assim como ampliar os números de lojas e as movimentações financeiras na Região da 44, é o Shopping Gallo, previsto para ser inaugurado no dia 30 de outubro. Com investimento em torno de R$ 100 milhões, o espaço terá mais de 500 lojas distribuídas em cinco pavimentos, com praça de alimentação completa, estacionamento com mais de 480 vagas para carros e espaço especial para ônibus. A previsão é que para cada loja sejam criados de dois a três empregos diretos, além de outros indiretos, somando cerca de cinco mil novos empregos. 
 
Superintendente do Shopping Gallo, Célio Abba acredita no diferencial da Região da 44 para estimular o mercado (Foto: divulgação)
 
Segundo o superintendente do empreendimento, Célio Abba, a proposta é seguir o estilo de ‘atacarejo’, ou seja, vendas no atacado e varejo, resultando em fluxo médio no centro de compras em torno de 10 mil pessoas diariamente. De acordo com ele, no início, a Região da 44 cresceu de forma desordenada, mas passou a receber empreendimentos mais organizados e agora oferece espaços com conforto e segurança, atraindo mais clientes para o local. “Em Goiânia, tivemos no passado outros polos de confecção e moda, como Avenida 85, Bernardo Sayão, T-2 e Lago das Rosas, que se desenvolveram por um tempo, mas não conseguiram se manter por falta de investimento em estrutura. O diferencial da 44 são as ‘âncoras’ como Estação Rodoviária, setor hoteleiro próximo e a Feira Hippie”, destaca.
 
Para estimular os negócios, Célio Abba cita a ‘Escola de Empreendedores da 44’, implantada pelo Shopping Gallo em parceria com o Sebrae Goiás, Serviço Social da Indústria (Sesi) e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), que oferece cursos e palestras para capacitar e desenvolver lojistas e empreendedores do setor da moda. A ação é permanente e visa minimizar os impactos da informalidade e apresentar as ferramentas de gestão do próprio negócio. A unidade de ensino é voltada aos clientes do empreendimento e a pequenos empreendedores do segmento de moda (vestuário, calçados e acessórios), além de propor dar suporte aos diversos perfis de microempresários, desde o novo empreendedor até o lojista mais experiente.

De acordo com dados levantados pelo Empresômetro, empresa especialista em inteligência de mercado, o comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios, também chamado de varejo de moda, tem a maior fatia de empresas ativas no Brasil, com mais de 1,04 milhão de negócios, ocupando o primeiro lugar no ranking com 83,34% do total do País. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Goiânia (CDL Goiânia), Geovar Pereira, destaca que nos últimos anos houve um crescimento vertiginoso do comércio de moda em Goiânia, tanto no que diz respeito à comercialização de produtos como à produção. Para ele, esse comércio fica mais aquecido em datas comemorativas, como Dia das Mães, Pais, Namorados e Crianças. “Porém, o Natal é sem dúvida a melhor data para os lojistas, tanto no que diz respeito às vendas no varejo como às vendas de atacadistas. Agora temos ainda o reforço da Black Friday, que tem caído nas graças do brasileiro. O consumidor tem confiado cada vez mais nos descontos dessa data”, informa. 
 
Presidente da CDL Goiânia, Geovar Pereira destaca que o comércio de moda cresceu na capital goiana (Foto: divulgação/CDL Goiânia)
 
Para incentivar o setor, Geovar Pereira enfatiza que a CDL Goiânia realiza ações como a promoção de cursos por meio da Escola de Negócios, orientações sobre formalização, capacitação etc. “No total, temos mais de 35 cursos disponíveis para ajudar o lojista a desenvolver mais o seu negócio, crescer com expertise e solidez. Como em todo setor, a qualificação tem de ser constante. Os lojistas precisam estar atentos à inovação e às mudanças constantes no perfil do novo consumidor, que hoje não quer apenas preço. É preciso ter diferencial para atrair clientes, como o bom atendimento”, diz. 

A moda atende a todos os gostos, mas cada público tem suas necessidades e comportamentos de consumo. Indústrias, comércios e lojas já perceberam que, às vezes, focar em determinado perfil aumenta a chance de sucesso dos negócios. Isso porque, hoje, é vasto o campo de possibilidades de interfaces com a moda, com produtos específicos plus size, moda sustentável, fast fashion, religiosa, LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais e outras identidades de gênero e sexualidade não contempladas na atual sigla adotada, representadas pelo “+”), entre outros. 
 
Um exemplo de nicho que tem conquistado cada vez mais espaço e peso na economia do Brasil é exatamente o LGBTI+. De acordo com instituições de pesquisa, no Brasil, cerca de 20 milhões de pessoas, 10% da população, se declaram LGBTI+. Nesse cenário, de acordo com levantamento da Assessoria LGBTI+ da Prefeitura de Goiânia, aproximadamente 15% das pessoas que vivem da capital goiana pertencem à comunidade.

O Instituto Brasileiro de Turismo apurou que casais homoafetivos gastam cerca de 30% a mais do que os heterossexuais. Então, por que não investir em moda para esse público? Foi o que fizeram os amigos – e agora sócios – Ademar Moura, publicitário e especialista em marketing; Jullyano Mendes, advogado; e Fernando Baldocchi, DJ e personal dancer. Os três inauguraram, em outubro, a primeira loja voltada diretamente ao público gay em Goiânia: a Inhaí? Look & Fashion. “A ideia nasceu realmente de uma dor que a gente percebeu, em nós mesmos, de não ter uma loja que nos atendesse em todos os sentidos. Uma loja que oferecesse um mix qualificado, diferenciado, com peças exclusivas e que ao mesmo retratasse o comportamento do meio”, ressalta Ademar Moura. 
 
Os sócios Fernando Baldocchi, Ademar Moura e Jullyano Mendes apostaram em um nicho de mercado para conquistar espaço na área de moda em Goiânia (Foto: divulgação)
 
De acordo com ele, até existem lojas na capital goiana e outras cidades do País que atendem ao público gay com relação ao mix de produtos, mas a maior parte não assume o posicionamento voltado para esse público. “Fizemos uma pesquisa e percebemos que a maioria não tinha coragem de assumir o posicionamento de ser uma loja voltada para o público LGBTI+, com receio de problemas no negócio. O que para muitos foi problema, para nós uma oportunidade”, enfatiza. 
 
Apesar do nicho de mercado, Ademar Moura explica que houve um cuidado em não ser algo excludente. “Quando se trata desse público existe uma linha tênue entre fazer algo que represente o meio, que traduza o comportamento, e algo pejorativo, que fosse motivo de piada. Fizemos várias pesquisas e avaliamos várias lojas, marcas e chegamos ao resultado da Inhaí, que tem conceito de ser manifesto, uma expressão muito usada no meio e que transita para todo o público”, acrescenta. 
 
O empreendedor informa que outra diferença da Inhaí é que a loja foi pensada para ser física, com o intuito de proporcionar, além do mix de produtos, experiências visual, auditiva e até olfativa aos clientes. “Na nossa pesquisa percebemos que há lojas com o nosso perfil, mas apenas on-line. Queríamos uma estrutura física. Por isso, pensamos em cada detalhe para realmente ser algo fora do comum”. Foram investidos mais de R$ 150 mil na estrutura da loja que funciona no Jardim Goiás.

No momento, a Inhaí trabalha com marcas nacionais e multimarcas, principalmente do eixo Rio São Paulo. Segundo ele, para o futuro pode ser que os sócios invistam em peças próprias, mas isso terá que ser bem planejado porque demandará a criação de outra área na empresa, que é a de produção. “A gente vê um futuro promissor. Inclusive, já pensamos e desenvolver franquias e outras lojas para outros estados. Acreditamos que essa demanda voltada ao público gay não é apenas de Goiânia, mas do Brasil e do mundo”, diz. 

De acordo com pesquisa da Ebit/Nielsen, divulgada em agosto deste ano, o comércio eletrônico registrou crescimento de 12% em vendas on-line no primeiro semestre de 2019 e tem contribuído para levar mais clientes para as lojas. Nos últimos seis meses, esse aumento representou faturamento superior a R$ 26,4 bilhões. Já levantamento da Loja Integrada, plataforma para criação de lojas virtuais, identificou que vender roupa pela internet tem sido alternativa para ganhar renda extra. Somente em 2018, aproximadamente 27% dos brasileiros entrevistados abriram uma loja virtual com foco no nicho de moda e acessórios (roupas, sapatos, lingeries etc).
 
 
Atentos a esse perfil de negócio, os publicitários e sócios Walter André e Pâmella Moura investiram na criação do Shopping Moda Goiás, lançado em agosto deste ano. Trata-se de uma plataforma de e-commerce focada no mercado de moda que oferece a criação de loja virtual com baixo custo, dando autonomia para lojistas aumentarem as vendas no atacado e varejo. De acordo com Walter André, a ideia para criar a plataforma surgiu durante pesquisa para empreender um novo projeto na Week – agência digital que os sócios possuem na capital goiana -, junto à ascensão do polo de moda em Goiás, principalmente em Goiânia, com a Região da 44, e pelo crescimento do mercado de e-commerce no País. 
 
O projeto do Shopping Moda Goiás foi planejado em duas etapas. Walter explica que a primeira é a plataforma de e-commerce, que já está on-line em operação no endereço www.shoppingmodagoias.com.br, dando oportunidade para o lojista criar uma loja virtual por meio de um cadastro simples, onde ele mesmo, de jeito fácil e intuitivo, faz a gestão de todos os recursos, dos pedidos, cadastro de produtos etc. Para o cliente que pretende contratar a plataforma, o investimento é a partir de R$ 69 ao mês.

Walter André orienta que não há comissões e taxas embutidas, sendo pago apenas um valor de mensalidade para utilizar a plataforma. “Para nós, idealizadores do projeto, além de suprir uma demanda local, é muito satisfatório saber que estamos fomentando o mercado local por meio de um produto criado pela nossa agência”, avalia. Para a segunda etapa do projeto, o investimento será em marketplace, que está previsto para funcionar no primeiro semestre de 2020. “Nessa etapa, o Shopping Moda Goiás será um portal de vendas que agrupará os produtos em único canal de oportunidades, levando o polo de moda de Goiás para todo o País”, destaca.  
 
Em três meses de lançamento do projeto, o Shopping Moda Goiás contabiliza 20 lojistas vendendo por meio da plataforma. “A meta é mostrar que entrar para o mundo do e-commerce não é um bicho de sete cabeças, que chegamos para ajudar seus negócios a crescerem ainda mais, ampliando as fronteiras das vendas locais, para qualquer, lugar 24 horas por dia”, informa. 

 
Instituições de ensino e de educação profissional oferecem cursos para capacitar mão de obra (Foto: istock)
 
Os representantes de entidades ligadas à indústria da moda, os empresários e os profissionais do setor já apontaram que um dos principais desafios deste segmento é formar mão de obra qualificada e especializada. Segundo o presidente da Fieg, Sandro Mabel, é uma área que demanda profissionalização, porque o mercado não consegue absorver trabalhadores que surgem de forma espontânea, sem capacitação. “E como este segmento é o 3º gerador de PIB na indústria de transformação, o potencial de geração de renda familiar é muito grande. É uma questão até de sustentabilidade social, principalmente se levar em conta que a maior parte desta mão de obra é formada por mulheres que são responsáveis pelo sustento da família”, explica.
 
É por isso que instituições de ensino superior e de educação profissional em Goiás têm buscado oferecer cursos de qualificação. É o caso do Senai Goiás que atua neste segmento de formação de mão de obra para a indústria de confecção há mais de 40 anos, sendo o principal centro de aprendizagem industrial. O Senai atende as prefeituras do Estado que possuem APLs de confecção com cursos de costura e modelagem no regime de gratuidade, cumprindo o seu papel social nesta tarefa. Além disso, a entidade oferece cursos mais avançados para a comunidade goiana, em três unidades diferentes, assim como 36 cursos de qualificação profissional que vão desde costura, modelagem, corte industrial até mecânico de máquina de costura; um curso técnico em Produção do Vestuário; e duas pós-graduações - MBA Gestão em Processos Produtivos do Vestuário e MBI em Moda e Economia Criativa.
 
Somente em 2018, foram 1.692 matrículas realizadas em 142 turmas de cursos de curta e média duração em 11 cidades goianas. “Por meio dessa qualificação, essas pessoas têm mais chances de se destacarem no mercado e conquistar uma vaga de trabalho na área de moda. Mas eles precisam entender que na hora de buscar essa capacitação, é necessário conhecer antes os cursos e os pré-requisitos para cada vaga que almejam alcançar. Isso porque nem sempre o curso que é voltado para modinha, por exemplo, qualifica para atuar na indústria”, orienta Dario Queija de Siqueira, diretor da Faculdade Senai Ítalo Bologna. 
 
Formada na área de vestuário e com experiência como modelista e costureira, Pollyanne Moisés, 36 anos, investiu em qualificação profissional para se diferenciar no mercado de trabalho. Ela fez cursos de Modelagem Corte e Costura e Desenho de Moda, respectivamente, no Senai Goiás e no Senac. Atualmente, trabalha como costureira em uma confecção de camisetas na capital goiana, além de prestar serviço como autônoma na área de modelagem de roupas e produzir peças no ateliê particular dela. “Tenho duas rotinas diferenciadas: em meu ateliê, como Microempreendedora Individual (MEI), e na indústria. No ateliê, como modelista, interpreto os modelos de roupas escolhidos pelo cliente por meio de fotos e croquis e elaboro o molde que será testado por meio de uma peça piloto. No ateliê, também produzo roupas para venda direta, com modelagem, corte, costura e venda”, informa. 

Ela diz que escolheu a área de moda e confecção por afinidade com o segmento e pela proximidade com trabalhos manuais. “Trabalho no mercado de moda pelas grandes possibilidades oferecidas, desde planejamento, criação, execução e vendas. Mas reconheço que o profissional do ramo precisa se qualificar e seu trabalho precisa ser mais valorizado em meio a tanta oferta e procura. Para o futuro, quero adquirir mais conhecimento, mais habilidades e ser excelente no trabalho que prezo e admiro”, enfatiza. 
 
Foi pela carência de profissionais para atuar no mercado que o Instituto Federal de Goiás (IFG Goiás) – Campus Aparecida de Goiânia criou o curso Técnico Integrado em Modelagem do Vestuário, em 2015. De lá para cá, a instituição está na quarta turma. “Como temos um polo de confecções forte em Goiás, principalmente em Aparecida de Goiânia, há oportunidades para este profissional modelista. Mas há carência no mercado, porque alguns profissionais adquirem experiência de forma empírica e na prática”, informa a coordenadora do curso, professora Yane Ondina.
 
Segundo ela, o curso vem no intuito de dar suporte na área de modelagem, que é a construção dos moldes que posteriormente serão usados para corte dos tecidos e montagem das peças, gerando então as roupas com qualidade e melhor caimento. O curso tem duração de três anos e os alunos devem ter idade superior a 18 anos, já que é direcionado à modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), contemplando quem ainda não concluiu o Ensino Médio e quer essa escolaridade e a certificação técnica. As aulas são ministradas no turno noturno durante a semana e em alguns sábados. 
 
De acordo Yane Ondina, além da oferta de um curso técnico, há projetos integradores durante o estudo que ocorrem a cada semestre e que motivam os alunos a construir peças e testar seu conhecimento. Ela cita o exemplo de um que tem como tema ‘Inclusão Social’, com foco em dar a uma pessoa com deficiência uma melhor qualidade de vida, melhorando seu vestuário. “Assim, roupas são modificadas para atender a uma necessidade, como aquelas feitas com tecido com proteção UV para pessoas com albinismo, saias especiais para cadeirantes etc. Já no projeto de ‘Educação Socioambiental’, os alunos criam e produzem peças com sentido de reaproveitamento, sem comprar nenhum material, aviamento ou tecido, exercitando então consciência social e praticando a economia criativa”, revela. 
 
A interação com o curso, a necessidade e a vontade de ter contato com o mercado de trabalho foram fatores que motivaram alunos de Design de Moda da Universidade Federal de Goiás (UFG) a criarem a Sensório, uma empresa júnior que realiza serviços no segmento da moda. Todo o dinheiro que arrecadado é revertido para formação e capacitação dos membros, além da manutenção da própria empresa. “Queríamos ter experiências empíricas antes de sair do universo acadêmico. Além disso, desenvolver o instinto de liderança e estímulos necessários para impactar a sociedade positivamente através do nosso trabalho”, destaca Deborah Coutinho, presidente da Sensório. 
 
Ela informa que a empresa júnior desenvolve serviços na área da moda como desenvolvimento de coleção, ficha técnica, desenho técnico, gestão de mídias sociais (perfis relacionados à moda), modelagem etc. Podem participar da Sensório, por meio de processo seletivo – realizado a cada semestre -, alunos que estão devidamente matriculados no curso de Design de Moda da UFG. 
 
Estudantes de Design de Moda da UFG que integram a empresa júnior Sensório (Foto: divulgação)
 
Deborah Coutinho acredita que o trabalho desenvolvido pela Sensório contribui para tornar o sonho de empreendedores em realidade. “Procuramos realizar ações a fim de estimular a sociedade a viver uma moda mais consciente, como publicações contendo dicas e informações sobre o assunto em nossa rede social; e realização de brechó, incentivando o consumo sustentável”, conclui. 
 
Estimular o reuso e o consumo consciente é o que também levou a empreendedora Thais Moreira a se enveredar pelo universo da moda. Ela é a responsável pelo Empório Armário, um brechó criado em 2012 que dissemina ideias, projetos e ações sustentáveis relacionadas à moda na capital goiana. “Vendemos roupas usadas, mas também trabalhamos com peças recuperadas por processo de upcycling, ou seja, transformamos resíduos, subprodutos da moda em objetos de desejo. Além disso, organizamos feiras, encontros, piqueniques, cafés da manhã sempre com o propósito de resignificar a moda”, relata. As peças comercializadas no Empório Armário são adquiridas das próprias clientes e também em eventos. 
 
A empreendedora espera que o mercado da moda, em Goiás, deixe um pouco de lado o pensamento focado no ‘fast fashion’, ou seja, na produção em larga escala do mesmo produto, elaborado de forma rápida e barata. “Para este tipo de moda os signos valorizados são os da pressa, descarte, uma moda muito desconectada com o eu de cada um. As perspectivas importantes são os de ‘tá usando’, ‘eu vi a fulana na novela’, roupa barata etc. O que queremos construir é uma rede pensante e atuante. O vestir fala muito sobre uma pessoa. Moda é arte, cultura. E queremos transmitir por meio da moda a mensagem mais importante para o próximo milênio: sustentabilidade. Sem ela a gente não tem roupa bonita, água, ar, comida, relações justas”, enfatiza. 
 
 

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