A Redação
Goiânia - A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) se reuniu, nesta terça-feira (16/9), com moradores e representantes da Câmara e da Prefeitura de Padre Bernardo para discutir a situação do lixão da empresa Ouro Verde, onde uma pilha de lixo desabou e contaminou o córrego Santa Bárbara. O encontro ajudará a Semad na tomada de decisão sobre o pedido da empresa de prorrogar o prazo do Termo de Ajuste de Conduta (TAC), que venceu no dia 15 de setembro.
Enquanto parte da equipe da Semad dialogava com a população, outra equipe técnica foi ao lixão com drones e equipamentos de monitoramento para verificar a veracidade das informações apresentadas pela empresa no pedido de prorrogação. Essa vistoria in loco, assim como o debate com a população, vai embasar a decisão da secretaria nos próximos dias.
Ao pedir a prorrogação do prazo, a Ouro Verde declarou ter retirado 36,7 mil metros cúbicos de resíduos do córrego, o que representa aproximadamente 87% do total estimado de 42 mil metros cúbicos. Os resíduos estão sendo levados por caminhões para uma área provisória impermeabilizada dentro da área do lixão, como medida emergencial. Ao todo, já foram realizadas mais de 4,5 mil viagens de caminhões com resíduos.
Aos moradores, o superintendente de fiscalização e controle ambiental da Semad, Marcelo Sales, explicou que a Semad avalia o cumprimento das exigências centrais do TAC, como a estabilização dos taludes da pilha do lixão, a construção da lagoa de chorume, a retirada total dos resíduos que atingiram o córrego e o monitoramento contínuo da qualidade da água. Esses pontos são vistos como fundamentais para evitar que a tragédia se agrave, especialmente com a chegada do período de chuvas.
“Numa situação de emergência nem sempre a gente consegue fazer o ideal, muitas vezes a gente tem que pressionar e correr pra conseguir fazer o que é possível”, afirmou.
Diferença notável
Após a reunião, representantes da comunidade foram levados até o lixão para acompanhar de perto as ações emergenciais em andamento. O intuito foi permitir que os moradores vissem diretamente a situação atual da área e o andamento dos trabalhos.
Francisca Maria, moradora da região há 20 anos e apicultora, lembra que, no dia do colapso, o primeiro sinal foi o forte odor que tomou conta da comunidade. Segundo ela, o mau cheiro sempre esteve presente, mas o episódio trouxe ainda mais preocupação e mobilizou rapidamente os moradores, que se reuniram para entender o que havia acontecido.
Com a retirada da maior parte dos resíduos, Francisca reconhece que houve um certo alívio. Para ela, ver o lixo sendo removido significa o começo de um processo muito mais longo. “Tirando o resíduo, já dá um certo alívio pra gente, porque já podemos começar um outro processo”, disse.
Outra melhoria notável para a moradora foi a diminuição do número de moscas. Por determinação do gabinete de crise, a empresa contratou drones agrícolas com capacidade para espalhar produtos biológicos de combate à insetos na área do lixão. O produto é aplicado semanalmente e, embora ainda existam insetos, o número de moscas já é consideravelmente menor.
“Antes parecia um enxame de abelhas, a gente não podia fazer nada. Agora está bem melhor”, compara Francisca.
Situação da água
Logo após o desmoronamento no lixão, equipes técnicas da Semad estiveram no local para realizar análises iniciais. Os resultados, a princípio, apontaram para uma presença de metais pesados acima do permitido. Também foi identificado níveis altos de matéria orgânica, por meio da análise da demanda bioquímica de oxigênio (DBO), que pode provocar sérios impactos ambientais.
“Quando a matéria orgânica se decompõe, as bactérias consomem o oxigênio da água. Quanto maior essa carga, maior o risco para a vida aquática, como a mortandade de peixes”, explicou Ernando Soares, responsável pelo Centro de Análises Ambientais e Laboratoriais da Semad.
Além da matéria orgânica, análises posteriores também identificaram fósforo total acima dos limites legais. Após a assinatura do TAC junto à SEMAD, a empresa Ouro Verde contratou laboratório especializado que constatou ainda a presença de benzeno e coliformes em concentrações superiores ao permitido. Ernando ressalta que o benzeno é classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como substância cancerígena, capaz de causar danos graves à saúde humana, assim como outros contaminantes que afetam o sistema nervoso.
Cabe esclarecer que o córrego Santa Bárbara é afluente do Rio do Sal, que é usado apenas em atividades de agricultura, piscicultura e avicultura na região. No dia 20 de junho, a secretária Andréa Vulcanis assinou portaria proibindo o uso dessa água contaminada e o gabinete de crise (sobretudo a prefeitura de Padre Bernardo) iniciou uma mobilização com objetivo de tirar dúvidas da comunidade local a respeito da situação.
Ernando destaca que os níveis de contaminação têm oscilado desde o acidente. No primeiro momento, houve forte piora na qualidade da água devido ao contato direto com os resíduos. Depois, quando barreiras de contenção foram instaladas, a situação apresentou melhora parcial. Já durante a retirada do material, os índices voltaram a se agravar, uma vez que a movimentação intensifica o contato entre o lixo e a água. A expectativa, segundo a Semad, é que com a conclusão da remoção o quadro volte gradualmente a melhorar.
Com a assinatura do TAC, ficou definido que a empresa deve realizar o monitoramento da qualidade da água, com análises em diferentes pontos do Córrego Santa Bárbara e também no Rio do Sal. As análises devem ser realizadas observando-se os critérios estabelecidos na Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 357/2005, que estabelece os padrões de qualidade para águas superficiais.
Moradores também manifestaram preocupação com a possível contaminação do lençol freático e de poços artesianos particulares. O TAC prevê inicialmente o monitoramento em apenas dois pontos, mas a Semad reconheceu a necessidade de avaliar a ampliação das análises para outros poços utilizados pela comunidade, a fim de verificar até onde os efeitos da contaminação podem se estender.
Outro ponto de atenção é o chorume. A nova lagoa destinada a recebê-lo ainda está em construção e precisa ser concluída antes do período chuvoso. A secretaria destacou que este é um dos principais desafios atuais, já que a infiltração no solo ou o extravasamento de chorume podem comprometer tanto a qualidade da água superficial quanto a subterrânea.
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