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RIMENE AMARAL

Bem-me-quer... As pétalas que me seduzirão na hora da morte

| 20.08.25 - 14:43

O jornalista tem uma grande vantagem quando comparado a alguns outros profissionais: nós lidamos com gente. E conhecer pessoas é o que há de mais enriquecedor e prazeroso nesta vida, junto com beber um bom vinho e comer uma boa comida. Não necessariamente nesta ordem. E quando tudo isso se junta é plausível dizer que atingimos uma certa evolução. Se não espiritual, uma evolução satisfatória. Encontramos um caminho ao Nirvana. E eu estive lá.
 
Não consigo me lembrar da primeira vez em que vi ou quando fui apresentado à Edvania Nogueira e ao José Pedro Martins dos Santos, um casal que tira de nós o que há de melhor do ser humano. Ele, Cônsul Honorário de Portugal em Goiânia, um português que abraça só com o olhar. E a gente nem precisa lembrar desde quando se conhece. Basta entender que o carinho e a proximidade foram recíprocos. Deve ser coisa de sangue lusitano.
 
Ela, a chef Edvania, é aquela que, com um sorriso quase contido e um olhar doce como pastéis de Belém, nos arranca suspiros. E quando ela aparece com uma posta de bacalhau, arranca suspiros, gemidos, lembranças, risos e choros porque ela é “A Pessoa” que tem o domínio, a destreza e a magia de criar um prato com bacalhau que vai além de ser gostoso. O bacalhau preparado por Edvania Nogueira é único! Do lado de cá do Atlântico, partindo do Cabo da Roca – ponto mais ocidental da Europa –, donde Camões declamou Os Lusíadas ("Onde a terra se acaba e o mar começa"), é o melhor. José Pedro e Edvania se complementam tanto que criaram um restaurante de comida portuguesa para levar mais que boa gastronomia aos comensais. De arrepiar.
 
Durante evento de gastronomia, para o qual fui contratado para escrever sobre chefs de cozinha e suas alquimias, tive a satisfação e o prazer de encerrar três dias de trabalho intenso com uma degustação de bacalhau feita por quem? Edvania Nogueira, claro! Não poderia ser melhor nem nos meus sonhos. Como é possível ser acarinhado pelo paladar de tal forma tão potencial, depois de o corpo sofrer tanto pelo trabalho intenso de três dias? Aí a gente termina o dia com Bacalhau Emulsionado, receita criada por ela e um dos destaques da Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança (www.boalembranca.com.br ). Vale conhecer.
 
Presente ao local e satisfatório com a última incumbência do terceiro e último dia de trabalho, fiz uma foto do prato do bacalhau preparado pela chef. Na semana seguinte, olhando a imagem, ela me fez pensar nas minhas experiências gastronômicas, em amizades, em sabores e até na morte. Sim! Dizem que o prazer extremo é quase como uma linha tênue entre a vida e a morte. Pois!
 
E no momento em que pensei na morte, me veio a questão: qual seria a minha última refeição? Pamonha? Torresmo? E não é de ver que o bacalhau da Edvania foi o primeiro prato que me veio à cabeça? Aquele que eu havia fotografado e escrito sobre ele, dias antes. Com o detalhe de que a iguaria deveria estar despetalando, como todo bacalhau que lhe pega pela mão e o arremessa aos céus. Edvania faz isso e ela fez para mim!
 
 

 
As amizades têm poder sobre as pessoas. A comida também. E quando pensamos em pessoas amigas e estimamos um bom bacalhau que se despetala – como naquela brincadeira popular de “bem-me-quer… malmequer…” mas só com a primeira parte – e todas as receitas que o envolvam, esta em especial preparada por Edvania, me faz lembrar dos meus últimos momentos. E sabe o que seria melhor? Se eu comesse o bacalhau preparado por ela como a última refeição, eu viveria mais uns dias para comer de novo! Quem sabe eu até desistiria da morte para continuar a comer, e comer, e comer…
 
*Rimene Amaral é jornalista, radialista e fotógrafo

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